domingo, junho 11, 2006

AS TISANAS DE ANA MARIA HATHERLY (*)

Seu antigo rosto amarelo de serpente,
como diria Carlo Levi.

Quem disse a janela era linda e diante?
Era assim e a mais ninguém?
Quem amarrou os versos nos cabelos ensolarados?
Um brilho de nórdica frieza?

A permuta poética entre o oriente e o cotidiano.
A maratona dos sonhos não têm fim.
A alma que tinha ido ao céu,
Volta da metade do caminho.

Ela tinha um coração que eu jamais mordera,
bem no seio esquerdo, que eu jamais beijara.
Mas as tábuas diáfanas do amor, elas sim,
elas eram elas no porto de cal e vinho!

Não sei porque ela agora não está
Atrás do escuro,
para iluminá-lo.
Se tens memória, eu disse a ela e a mais ninguém:
não me esqueça quando me esqueceres.


(*) Ana Hatherly, poeta portuguesa, é autora de (entre muitos outros livros) de “AS 39 TISANAS”, Porto, 1969.

Tisana, s.f. cozimento de cevada; medicamento líquido que constitui a bebida ordinária de um enfermo. Conf. Pequeno Dicionário Brasileiro de Língua Portuguesa – 11ª. edição.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Lázaro, o poema é maravilhos. Não só esse poema, mas toda a produção poética e artigos do blogger estão excelentes. Acompanho com prazer e entusiasmo. Parabéns. Um abraço. Camilo Lara.

11:33 AM  

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